Todos gostaríamos de ter o vigor da mocidade associado à experiência e quiçá à sabedoria da velhice, mas a natureza decidiu de maneira diferente.
Me interessei pelo livro por causa do conjunto da obra: o título intrigante, a capa linda e a sinopse curiosa. Não me decepcionei com nenhum dos aspectos: a capa é bonita que nem parece nas fotos – talvez até mais, porque quando se tem o livro nas mãos a magia é outra; o título faz jus à história, reflete a sensibilidade do texto; e a história é realmente cativante.
Este livro está classificado como juvenil, mas talvez as pessoas mais velhas compreendam e de identifiquem tanto quanto, ou até mais, que os jovens. Chega de lero-lero, vamos ao que interessa:
A história é incomum, a começar pelo narrador, que não se identifica: ele vê, ouve e sabe o que se passa na cabeça de todos. É um narrador-personagem, que não chega a participar da história, mas faz a ponte entre ela e o leitor, dialogando com quem lê. Outra coisa incomum é o nome dos personagens: só um tem o nome escrito por inteiro. Os demais são tratados como incógnitas: apenas uma letra é dita para cada um.
Nome: O gosto do Apfelstrudel
Autor: Gustavo Bernardo.
Editora: Escrita Fina.
Sinopse: um homem, em coma, dedica-se mentalmente a reconstruir sua infância e a despedir-se da sua mulher e dos seus filhos. Uma história que trata da vida e da morte, mas com final feliz.
H é um senhor, com por volta de 80 anos, que está em coma num hospital. Seus pulmões e seu coração estão fracos, está com câncer e diabetes e ele está tendo uma sobrevida proporcionada por aparelhos. Durante este período de latência ele passa a ouvir muito bem, até melhor do que quando em vida; escuta o que se passa nas salas vizinhas à sua, os cochichos dos enfermeiros, os lamentos dos parentes. Esse ‘superpoder’, no entanto, não é a única ou melhor coisa que lhe acontece: seu cérebro, antes cheio de ‘nuvens’, agora está límpido, claro, e ele pode lembrar e imaginar como nunca pode antes. A partir daí, H começa a se reconstruir mentalmente, e suas percepções sobre a vida e as coisas vão sendo postas no lugar.
Este é um dos livros em que o importante não é só o que se conta, mas como se conta. Um resumo da história completa não ficaria grande, justamente porque não é isso que está em foco. A reflexão de H, as entrelinhas que se estendem por sua infância cercada de receios, por causa da 2ª Guerra Mundial, e a formação do ser ressaltam muito mais.
Só achei ruim o fato de o livro ter só 87 páginas. Li rapidinho, mesmo parando para reler alguns trechos. Posso dizer que foi além das minhas expectativas: comecei pensando que seria uma coisa nostálgica, com H se despedindo tristemente da família e fazendo um balanço de sua vida… Isto não acontece. O protagonista não pode se expressar de maneira nenhuma, então fica por conta de seu cérebro aproveitar os últimos momentos de vivacidade.
Esta imobilidade do personagem faz a obra se destacar entre as outras: como saber o que se passa com um paciente em coma? Gustavo Bernardo criou aqui um texto verossímil que, bem como é dito no início, “qualquer semelhança desta história com pessoas vivas ou mortas não será nunca mera coincidência, assim como também nunca poderia ser mera semelhança”. O livro tem um vocabulário amplo, ótimo para conhecermos novas palavras e vermos como empregá-las.
É isso. Gostei e recomendo. Este volta pra estante com louvor!
Tô em busca exatamente de livros onde, como você disse, "o importante não é só o que se conta, mas como se conta." Só fiquei um pouco decepcionado com o fato de só ter 87 páginas... A história parece boa demais pra ser desenvolvida em tão pouco espaço. De qualquer forma, valeu pela recomendação!
ResponderExcluir=*
http://livrosletrasemetas.blogspot.com/
QUERIDA, VIM DEIXAR UM BEIJO E TE CONTAR QUE MEUS MOCHILEIROS JÁ CHEGARAM, ACREDITA?
ResponderExcluirBjks
Flávia
www.conexaoflavia.blogspot.com
TEM SORTEO NO BLOG, ÚLTIMOS DIAS!