sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

De volta pra estante #13: A Máquina de Revelar Destinos não Cumpridos.

    O Rio de Janeiro, visto de cima, daquelas tomadas aéreas de cinema e tevê, não é o mesmo que se vive cá embaixo, sobretudo longe da brisa do mar, na depressão do subúrbio, no labirinto de asfalto, encarando um Minotauro por dia. O caos urbano não é pra amador (…).
   O livro chegou sendo uma incógnita. Não conhecia o autor, a coleção e o título, a princípio, não fez muito sentido. O que eu  sabia era que era de conto/crônica, porque na capa tinha uma etiqueta que falava que ele ficou em 2º lugar no prêmio Jabuti de 2010.

a máquina destinos

Nome: A máquina de revelar destinos não cumpridos
Autor: Vário do Andaraí.
Projeto gráfico: Guto Lins (ele também escreveu e projetou Torpedo, que eu citei aqui).
Editora: Dimensão.
Sinopse: O carioca Vário do Andaraí nos convida a entrar no seu táxi e, pelos becos, ruas e avenidas do Rio de Janeiro, conhecer um painel divertido e comovente de personagens reais ou um pouquinho inventados que, de alguma forma, têm a ver com todos nós. Reminiscências de escritores clássicos e modernos, toque poético e muito humor criam páginas inesquecíveis e de riqueza rara nas crônicas mais comuns.

   Crônica é um gênero narrativo muito bom; são situações cotidianas com uma pitada de poesia. Ok, essa pode não ser a melhor definição, mas é a minha visão. Já nas aulas de português as professoras dizem que é um fato cotidiano contado de maneira mais pessoal. Acho que é por isso que eu gosto tanto deste gênero. São textos leves, alguns com humor e até um pouco de ironia. É justamente o que encontramos no livro de Vário do Andaraí.
   Foi só eu ou você também achou o nome do autor um tanto quanto… diferente? Na verdade é um pseudônimo, e ele explica esta escolha nas primeiras páginas do livro. Ele tem um currículo bem extenso: já foi músico, analista de sistemas, comerciante… mas não levou nada a sério. Atualmente ele é taxista, e suas experiências neste ramo foram transformadas neste livro.
   Eu nunca fui no Rio de Janeiro, e tudo que eu conheço de lá é o que via na televisão. Nem em livros tive tanto contato assim. A viatura de Vário (rá, senti o trava língua chegando) roda pela cidade maravilhosa, pegando os passageiros indicados pela Central ou aqueles que pedem que ele pare. Pessoas aleatórias, em lugares aleatórios. Assim, ocorre de Vário ter que pegar alguém no pé do morro ou levar alguém para um bairro nobre. A cidade é grande, e os pontos finais nem sempre são pertos, de modo que a conversa se faz presente na maioria dos casos. Estas situações, de fato, mereciam ser retratadas por alguém! E quem melhor para isso do que uma pessoa da área?
   Crônicas que se destacaram:
  • A bela, a fera e o nefelibata: é uma corrida inusitada: uma moça que fazer uma viagem para um lugar distante, de ida e volta, mas seu animal de estimação tem que ir junto. Os termos da corrida são ótimos para o taxista; seu único receio é o tal bichinho… que não é nem um cachorro nem um gatinho… Achei bem engraçado! Vário não é nenhum santo, sabe… Ele também apronta!
  • Cheio das razões: Vário pega um passageiro que logo se mostra meio maluco: fala coisas sem sentido, mexe com as pessoas na rua… O que ele fala, às vezes, faz sentido. O problema é que ele não tem um destino certo, e esta instabilidade nas ideias trazem insegurança ao motorista: será que este aí paga a corrida?
  • Ahã: não precisa ser taxista para encontrar, de vez em quando, aquelas pessoas que falam pelos cotovelos. Nestas situações, o procedimento varia: alguns entram no monólogo na conversa e tentam trocar ideias, outros, como Vário faz nesta crônica, se limitam a dar indícios de que estão escutando, né? Ahã...
    Vemos ainda “A máquina de revelar destinos não cumpridos”, que dá nome ao livro; “Nós ota mas não eca”, que fala também de outro meio de transporte comum no Rio; e Conversão, um texto que está entre os meus preferidos.
   O livro tem 157 páginas, mas a leitura transcorre tranquilamente; de uma crônica a outra, quando se vê já terminou o livro. As entradas de capítulo são trabalhadas (obra de Guto Lins), com páginas pretas com letras brancas. Gostei porque tira a monotonia das páginas brancas.
   Agradeço à editora por disponibilizar o livro, e recomendo a vocês: não é um livro comum, não tem nada de sobrenatural e nem é um romance água com açúcar. Ainda bem. Tava precisando de uma dose de realidade, ainda que ela tenha vindo rodeada de alusões a outros autores, como Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa, e com ótimos momentos de ironia.

3 comentários:

  1. Nossa, parece ser legal.
    Até me interessei agora... Eu vi esse livro na livraria e essa coisa de 'branco no preto' e não o contrário, é realmente muito legal.

    Cah Lacerda
    The Review Kingdom

    ResponderExcluir
  2. Olá!

    Ai, eu adoro crônicas! Ah, se pudesse emprestar... rs.
    Adorei sua resenha, Mi!

    Abraços.

    ResponderExcluir
  3. Ora, Ana, se vc qser, é só me avisar que te mando por correio!

    Cah, talvez eu mostre o livro num vídeo que estou planejando fazer, aí vc vê direitinho!

    ResponderExcluir

Agradeço o comentário!
Volte sempre! (:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
 
Booker Queen! © 2012 | Layout por Chica Blogger| Modificado e hospedado por Miriam Pires| Ícones de redes sociais por Mariana Frioli.