quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

De volta pra estante #1: Crônicas para jovens: de amor e amizade

   Gosto muito do estilo de escrita de Clarice Lispector. Ela diz as coisas de forma direta, sem muitos rodeios, algo cru, que vem e te atinge. Não tenho preguiça de ler o que ela escreve, mas em alguns momentos ela reflete de maneira tão complexa que eu tenho que parar, ler de novo e analisar. Talvez seja por isso que minha mãe acha que sou nova pra ler Clarice… :D

cl amor e amzade

Nome: Crônicas para Jovens – De Amor e Amizade.
Autora: Clarice Lispector.
Editora: Rocco.
Comprar: Leitura - Saraiva - FNAC


   Este livro surgiu da reunião de crônicas e contos publicados pela autora, tanto em seus livros quando em sua coluna no Jornal do Brasil, durante o período de agosto de 1967 e dezembro de 1974. É interessante observar uma ordem cronológica estabelecida pelos organizadores da obra; como se tratavam de publicações em um jornal, pode-se observar que Clarice escreve uma coisa e em outro texto ela retoma algum elemento da história anterior.
   O livro é bem dinâmico. Os diferentes gêneros nele reunidos dão certa fluência para quem está lendo: imagine que você terminou de ler uma crônica, bem trabalhada e em alguns momentos complexa. Eu precisaria de um break para continuar no livro; em alguns momentos não é preciso: logo em seguida há uma história curta, com apenas algumas linhas, e com um teor irônico. Problema resolvido.

   O livro tem temas pré-estabelecidos (amor e amizade). Isso não impede que os textos sejam bem variados. Ressalto aqui alguns que me chamaram a atenção:

Uma revolta: o narrador se mostra, em apenas cinco linhas, indignado com o amor: quando este é em grandes proporções, é inútil, porque a pessoa para quem o sentimento é direcionado não é capaz de “absorver” tanto, de modo que parte é desperdiçado. A conclusão, então, é que tem-se que ter bom-senso e ser comedido na hora de dedicar tal atenção. A revolta parte justamente desta necessidade de “bons modos” quando se trata de sentimentos; afinal, deveria ser algo espontâneo, livre, e o que se percebe é este limite, inconscientemente estabelecido.

Ao que leva o amor: cito esse por ser um contraponto para as redes sociais atuais: é comum vermos no Orkut ou Tumblr aqueles diálogos como: “Ele: Você me ama? Ela: Sim, te amo muito. Ele: Não, te amo mais”, e por aí vai, sem fim. Alguns acabam em tragédia (uma falta de imaginação sem tamanho; vão ler Romeu e Julieta galera!). O diálogo criado por Clarice não chega a enunciar os sujeitos, simplesmente transcreve a conversa, que por fim é o reconhecimento do amor entre um casal. Quando compreendi as entrelinhas, eu que me emocionei e me diminui frente a tanto sentimento exposto em seis falas. É simplesmente sublime.

O primeiro beijo: eu já tinha lido este conto em outro livro que tenho de Clarice. É um dos meus preferidos, de longe: um menino tem uma conversa com sua primeira namorada, que pede que o amado diga pra ela quem foi a primeira mulher que ele beijou. Ele passa a lembrar, então, da situação. As circunstâncias do ato, e até as passagens sugestivas do narrador, são imperdíveis. Acho que a partir desta leitura me tornei uma legítima “clariceana”.

Liberdade: é uma historinha que narra o nível de sinceridade que um relacionamento atingiu. Penso que este é o mais difícil e trabalhoso degrau a se alcançar numa amizade, uma vez que o ser humano é um bicho de difícil trato: uma amiga liga pra outra. Essa outra diz que não está com vontade de falar. A primeira vai e desliga, então, e vai fazer outra coisa. Será que teríamos a mesma reação? Ficaríamos insistindo, guardaríamos rancor ou apenas entenderíamos o outro?

   Tinha muitos outros pra comentar, mas já me fiz entender: esse livro é muito bom. Tem-se que ter um pouco de bagagem pra lê-lo, e vontade de compreender. Tanto jovens como adultos apreciarão estes textos, cada um de sua maneira; são histórias para se ler uma, duas, três vezes, ou mais. E tem um preço bem acessível.
   Quem sabe você, que nunca enfrentou um livro lispectoriano, não se encante pelo estilo da autora?

   Ainda é possível conhecer outros da mesma coleção – De Escrita e Vida e Do Rio de Janeiro e Seus Personagens.

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